*A Vida na Correnteza
Ah! Tão bom esta correnteza me levando. O quarto está diferente. Menos escuro, maior quantidade de água. Não estou com frio. Vixe. Embrulharam-me num saco plástico. Mãe, mãe onde está você? Estou cansando e ficando com medo.
Agora fazer o que? Voltar ao pó, subir noutra dimensão antes de viver. Por que me fizeram? Por que não me quiseram? Por que não me amaram? Vou dormir é a única solução que tenho.
Mas há sempre alguém a nossa espera. Dois pescadores, vendo o embrulho, foram averiguar. Um lindo bebê. Levaremos ao hospital.
Entre falta de respiração, cordão umbilical quase infeccionado e desconforto, sobrevivi. Respirei fundo, enchi os pulmões de vida e dormi naquele berço pequenino. Os olhares cheios de compaixão e dó da órfã, com mãe viva, rejeitada, a procura de um lar caridoso que me recolha. Vitória, meu nome. É de praxe, vencer é vitória da vida.
Ei mãe, eu sonhei tanto por teu amor e carinho, pelo leite quentinho me alimentando, pelos primeiros passos, pela vida enfim. Quantas crianças felizardas, quantas abandonadas, quantas infelizes, quantas perdidas nas calçadas por falta da mão materna e paterna que as conduzam na vida.
O que é destino? Não pedi para nascer? Sabe Deus! Eu não entendo nada das coisas da criação. Só entendo que eu queria ter um lar, ser feliz, amar, ser amada. Quem vai me ensinar?
Vou dormir, é só o que sei, e esperar. A vida é só de espera. Já comecei a esperar num quarto escuro, nove meses, e vou passar o resto da vida esperando, até que a sorte, destino, sina ou sei lá o que, vá arrumando minha vida.
Feliz quem tem mãe. Amém.
OH , los niños, la alegría
ResponderExcluirdel mundo mientras no nos los estropean...Besos. Os quiero.